
O papo-Roxo
Eles chegaram de Porto Alegre cedinho. Estacionaram a Panorama verde na praia da Vila e observaram o maior swell que já tinham visto bombando entre as duas ilhas. Unce Upon a Time in The West tocava alto no rádio e eles acenderam um beck para comemorar a viagem tranquila e as ondas grandes.
— Bah, Vitinho. Vai inaugurar a gunzeira em grande estilo, meu brother.
— Pode crer, Marcelo. Descer essas morras vai ser meu segundo presente de aniversário.
— Cara, não sei se vou entrar nesse pico com a minha 6 pés.
— Vai amarelar, Sérgio? — Zombaram os dois amigos.
Passaram parafina nas pranchas, vestiram suas roupas de borracha e entraram nas águas geladas da vila pelo canal. As cabras na Ilha Santana de dentro observacam em silêncio a ousadia dos surfistas que se arriscavam naquele mar. Alguns nativos no pico olhar um ar pouco amistoso para os gaúchos. Uma hora de surf depois e os três amigos resolveram ir para o Hotel Imbituba deixar as coisas e procurar um lugar para comer.
— Tu já ficasse neste hotel antes, Vitor? — Perguntou Sérgio.
— Não, mas um amigo de Garopaba disse que é bom e não muito caro.
— Cara, me arrepiei todo só de olhar essas janelas. Sei lá.
— Bah, Serginho. Tu sempre com essas manias. Tu tá é com fome. — Disse Vitor.
— Vocês precisam ver o bar do hotel rapaziada. Até piano tem. Coisa fina, observou Marcelo.
Os três amigos ficaram hospedados na ala norte, com as janelas e a varanda de frente para a rua Quintino Bocaiúva. No início da noite, saíram atrás de diversão. Foram beber algo no restaurante Carvão, point badalado da cidade e que, naquela sexta-feira, reunia surfistas contando suas manobras radicais no mar clássico daquele dia, estudantes que haviam matado a aula no Colégio Annes Gualberto, alguns conhecidos botequeiros da região, música boa e muita gente bonita. Depois de beber, comer e trocar ideias, os amigos resolveram voltar para o hotel. O dia seguinte prometia altas ondas e eles pretendiam acordar cedo para aproveitar ao máximo o final de semana na praia.
— Cara, não estou com sono, disse Sérgio. Vou ficar um pouco na varanda.
— Segura a fumaça, Brother. Essa varanda fica de frente para rua, disse Vitor.
— Deixa o cara relaxar, Vitor. Assim ele ronca menos. — Riu Marcelo.
Sérgio ficou observando as estrelas e ouvindo o som das ondas do mar ao longe. Um vento nordeste começou a super mais forte e ele teve a impressão de ouvir o som de cascos de cavalo aproximando-se olhou ao redor, mas nenhum cavalo passou pela rua. Cansado, entrou no quarto e foi dormir. Acordou com o som dos cascos do cavalo, e foi até a varanda. Marcelo acordou com a movimentação do amigo.
— O que foi, Sérgio?
— Eu ouço som de cavalo por aqui, mas não vejo nenhum. Cheguei a acordar com o barulho.
— Que cavalo, meu irmão? Vá dormir.
Quem acordou com o som dos cascos do cavalo dessa vez foi Marcelo. Olhou para sérgio que estava acordado em silêncio. Os dois levantaram devagar e abriram a porta do quarto que dava acesso ao corredor do hotel. Parado na frente da porta do quarto estava um belo animal marrom de crinas longas e porte altivo. Montado sobre a sela, um soldado com uniforme de cor caqui e botas de montaria. Na cintura, um grosso cinto de couro sustentado ainda por duas alças de um suspensório. Um sabre pendia do lado esquerdo do cinto. A gola roxa da camisa que usava pro baixo envolvia todo o pescoço. O homem sorriu, olhou para Sérgio, Marcelo e para Vitor, que sentado na cama tentava entender o que acontecia. A um comando do soldado papo-roxo, o cavalo ergueu as patas dianteiras, relinchou e disparou pelo corredor do hotel até desaparecer pela parede.