
Lobisomem de Paulo Lopes
Antigamente aqui no Município, era muito comum, nas vendas principalmente, se ouvir os "contadores de causos". Como não tinha televisão e outras diversões, surgiam histórias de todo tipo. Aqui no Município era muito contada a seguinte história:
Era um casal que estava ainda na lua de mel. O marido ao anoitecer de uma quarta-feira de lua cheia (dia de lobisomem), disse para a esposa que iria na venda um instante. Enquanto o marido foi à venda, a esposa foi ao varal recolher as roupas. De repente surge um grande porco muito bravo e, avançou de dentadas nela. Ela começou aos gritos, dar lambadas no porco para que este não lhe mordesse. O porco chegou a rasgar a saia de "baieta" (espécie de tecido vermelho), que ela estava usando. Depois de muito tempo, o porco foi embora. Bem mais tarde chegou o marido e, a mulher ainda muito nervosa, indagou:
– Onde estivesse marido? Um porco atacou-me assim saíste que eu passei muito medo. Eu gritava por ti para vires me socorrer e, nada de tu chegares. Depois do susto a esposa sentou-se na sala e começou a costurar. O marido começou a fazer carinho nela para acalmá-la bem e, acabou dormindo no colo dela. De repente ela olha para o marido que estava dormindo de boca (^) aberta e, vê os fios vermelhos da saia dela, entre os dentes do marido. A esposa acordou ele e, começou a chamá-lo de lobisomem. Disse que tinha sido ele quem havia lhe atacado e, se transformado num porco. Diziam os antigos que o lobisomem se transformava no primeiro bicho que ele visse, no dia de quarta-feira, quando fosse cumprir a "sua sina". Claro que a história conta, que o marido dela deixou de ser lobisomem a partir daquele momento, porque sendo descoberto, o lobisomem perde o poder e deixa de ser lobisomem. Ainda sobre lobisomem contavam a seguinte história: Eram dois compadres. Um deles estava viajando numa noite (lua cheia). De repente surgiu um gato grande e atacou o referido Senhor. Corajoso que só ele, armou-se com um pau e enfrentou o bicho. Quando acertou uma lambada, o gato transformou-se num homem, justamente o compadre dele. Disse que ficou contente porque havia sido descoberto e, queria pegar um presente para dar a paga ao compadre, pelo "favor que fez". Como todo homem corajoso tem que ser esperto e ligeiro, mais que depressa tirou o seu boné e o colocou na cabeça do moirão, para se esconder no mato ao lado. Só deu tempo de sair do local e, escutou aquele tiro. Era justamente o lobisomem (seu compadre), que de raiva atirou no moirão, pensando que era o compadre. Queria matá-lo, porque se matasse o compadre não descobriria e, ele poderia continuar sendo lobisomem.